segunda-feira, 22 de junho de 2009

Teologia, Espiritualidade e Oração


"...alimentando da Fé e da boa Doutrina..." (1Tm 4.6)

Introdução

Quando pensamos nestes três temas, pensamos sobretudo na celebração e no encontro mais profundo – naquilo que se encontra nas Escrituras. Nem todos os envolvidos com interesses espirituais comungam com uma espiritualidade alienante e sem teologia.

Há muitos que, pelo contrário, estão à busca de séria fundamentação teológica para sua espiritualidade (LIBANIO). E, é neste sentido que inicio o meu artigo.


1.Teologia

A Teologia desempenha um papel fundamental na autojustificação da fé e na sua partilha de pequenos grupos. É aqui, dentro desta realidade que as pessoas compartem, em maior profundidade, sua experiência cristã.

A Teologia ajuda no aprofundamento e na partilha de tal vivência religiosa.

1.1. Base a partir da existência de uma Teologia neotestamentária; (v. 6)
Se acreditamos que existe uma Teologia presente no texto do NT, então é a partir desta realidade que começamos nosso trabalho. Uma Teologia global e que abarcante os rastros principais do NT.

1.2. Perspectiva paulina e enfoque apostólico; (3.16)
É vista in loco. Em Paulo, a ótica dominante e que orienta o seu trabalho teológico é a Igreja como Reino e o Cristo crucificado como o Cabeça deste organismo vivo em processo salvífico.

Libanio nos oferece 04 passos em que isso se dá:

1. O teólogo percebe quando nasce um descompasso entre o discurso e a experiência da fé;
2. O teólogo experimenta reler a revelação (Auditus fidei) e a tradição;
3. Ele (o teólogo) elabora um ensaio de construção dos grandes temas teológicos a partir da nova ótica;
4. Maturidade dos enfoques teológicos.


1.3. Preocupação com uma Teologia da Práxis – 1Tm 4.6.

Paulo começa : “Expondo esta coisas (Intellectus fidei) aos irmãos”.

Fala-se, aqui, de uma ‘Teologia que não se limita a pensar o mundo, mas procura situar-se como um momento do processo através do qual o mundo é transformado: abrindo-se – no pretexto ante a dignidade humana pisoteada, na luta contra a espoliação da imensa maioria dos homens, no amor que liberta, na construção da nova sociedade, justa e fraterna – ao Dom de Deus’ (G. Gutiérrez) e ainda, Clodovis Boff afirma que a ‘Teologia precisa ser prática’.

Seguramente nasce daí os desejos mais profundos de Paulo: de erigir um pensar teológico que seja utilitário para a Igreja do Senhor Jesus e que norteie os temas que lhe tocam nas mais diversas áreas como ética e sua espiritualidade no seu âmbito relacional.

2. Espiritualidade

É visto, na Escritura, um casamento entre a Teologia e a Espiritualidade, exatamente pelo fato de que: a ‘espiritualidade confere sabor à Teologia, restitui-lhe o dinamismo interno, pneumático, da fé que busca compreender’ (LIBANIO) .

2.1. O Conceito de espiritualidade está agregado a doxologia paulina: Piedade – (1Tm 4.7);
2.2. Precisamos aprender a trilhar o ‘Caminho’ - causa cristã - de Damasco – (At 9.1-9);
2.3. Desenvolver nossa espiritualidade servindo com os nossos dons e talentos numa perspectiva trinitária e global do serviço cristão (2Tm 2.2).

3. Oração

"E, despedidas as multidões, subiu ao monte, a fim de orar sozinho. Em caindo à tarde, lá estava ele, só" (Mt 14.23).

É um privilégio trazer uma reflexão a partir de um tema tão pertinente e que nos desafia com uma realidade que transpõe os nossos limites quanto a esta necessidade suprema: desenvolver uma vida disciplinada de oração aliada a uma visão teológica dentro da espiritualidade cristã. Faz-se necessário desconstruirmos alguns mitos que circulam em muitas de nossas comunidades:

1. O mito do 'Espiritual'. A espiritualidade sadia e equilibrada que muitos cristãos procuram é atravessada por um tipo de 'espiritualidade' doentia, formatada e enclausurada dentro da perspectiva pessoal de oração.

Na maioria dos casos, as pessoas se preocupam muito mais com o tempo gasto em oração coletiva, em detrimento da busca por uma vida piedosa. A piedade não dá IBOPE nem mesmo evoca imortalização nos grandes ministérios.

Quantas horas de oração você gasta por dia? Esta é uma das muitas perguntas desumanas que as pessoas fazem, pois quem está pagando o preço de oração, raramente se preocupa com a busca alheia. Quase sempre quem ora se envergonha pela sua própria necessidade;

2. O mito do Lugar. Em Jesus percebemos que o lugar da Oração é onde Deus habita: no coração dos homens.

Pois é ali que erguemos o altar verdadeiro. Não existe 'o espaço' propício, existe o coração disponível para conversar com Deus e que faz deste momento, um momento para se relacionar com Deus;

3. O mito do Coletivo. Quase sempre as orações em público (hoje), perderam sua funcionalidade prática. Muitos, nesta hora, pregam, outros evocam uma oração imprecatória (e ainda em contextos totalmente desconectados com relação à Teocracia de alguns textos veterotestamentários versus Igreja) e ainda, muitos aproveitam para 'profetizar', descer a 'lenha', a 'madeira' nos irmãos. É um fenômeno estranho no meio das reuniões de oração ou mesmo nos cultos de domingo. Realmente, um quadro triste;

4. O mito do 'homem de oração'. Isto é mais desumano, pois menospreza aqueles que oram sob o signo do silêncio, da busca através da quietude e do relacionamento estreito com Deus.

Geralmente voltam-se os holofotes para os grandes homens de oração, para os grandes ministérios e 'grandes' e 'grandes' e 'grandes'.

Mas a verdade é que o Evangelho não trás esse retrato de Jesus nem estimula esta perspectiva para a igreja. Repare bem: “tu, porém, quando orares, entra no teu quarto e, fechada a porta, orarás a teu Pai, que está em secreto...” Mt 6.6 - O Evangelho caminha noutra dimensão.

Isso posto, enfocaremos nossa reflexão sob o pilar básico com três perguntas retóricas: a) O que é oração; b) como obter uma vida de oração; c) como desenvolver uma vida de oração enquanto cidadãos do Reino?

1. No ministério evangelístico e na vida diária de Jesus a Oração é sempre vista como ferramenta fundamental, vital e inseparável.

Jesus estava consciente de que na caminhada da fé (tanto na existência = vivência, quanto no serviço); era preciso estar atento às necessidades emocionais (ver Mt 14.23; Lc 9.18; Lc 5.16 e Lc 6.1).

2. É preciso termos cuidado com os estilos de ministérios 'sufocantes' que muitas vezes extrai do ministro a possibilidade de celebrar uma vida tranqüila e serena do ponto de vista do relacionamento com Deus. Ter cuidado com a agenda e com o estilo de vida que adotamos para nós como modelo.

Aqui, os monges medievais nos ensinam uma disciplina aproveitável: viviam ao ritmo do Ora et labora (ora e trabalha). Gosto da frase de E. M. Bound, pois anula a questão da falta de tempo, quando diz que 'a pessoa tão ocupada que não pode orar, também estará muito ocupada par viver uma vida santa'.

3. Aprendemos com Jesus que o enfoque da oração, é o próprio Deus. (James Houston, 1995:35). Oramos não somente para desfrutarmos da experiência de orar, mas para nos comunicar com Deus, para nos submetermos a Ele, para O amarmos e O servirmos; Houston nos ensina que a oração é nossa resposta ao interesse demonstrado por Deus em nós e ao seu amor por nós.

Impressionante o fato que quando olhamos para a Bíblia com honestidade descobrimos que Ele (Cristo) só pode ser achado dentro dos nossos corações (ver Cl 1.27: "...Cristo em vós"). E ainda, devemos buscar a Deus com intensidade: "Buscar-me-eis e me achareis, quando me buscardes de todo o vosso coração" (Jr 29.13).

4. Percebemos em Jesus que a oração assumia vários aspectos diferentes dos nossos: a) ela era um relacionamento com Deus (Houston); b) foi antecessora de grandes batalhas de fé (Mt 4.1-2); c) a oração é o maior vínculo para se cultivar a adoração e para percebermos com quem nos relacionamos (Lc 10.21-24; d) e por fim, n'Ele, em Jesus, vemos que havia louvor e adoração, mas também espaço para uma sensação de silêncio divino absoluto.

Finalizando, a busca por uma vida que equilibre teologia, espiritualidade e oração nunca foi fácil para ninguém, também não será para nós.

A. Tozer afirma que : ‘existe uma doce teologia do coração que só se aprende na escola da renúncia’. Quanto mais oramos, irmãos, e à medida que o 'eu' vai morrendo, mais vamos crescendo em vida com Deus (Francis Shaffer).

Resta-nos nestes dias tão "apressados" nos voltarmos para Deus, afim de buscarmos a sua face num ambiente tranqüilo – Locus amoenus.

Quando nos voltamos para Deus, somos por Ele atraídos e sua vida cresce em nós, pois esta é a vida normal do cristão.

Finalizo com estas belas palavras de Agostinho: "Tu nos fizeste para ti mesmo, e nossos corações ficam desassossegados enquanto não descansam em ti".

A graça de nosso Senhor Jesus Cristo seja, irmãos, com o vosso espírito. Amem!' (Gl. 6.18)

Douglas Rodarte
Diretor do Instituto Bíblico Novohorizonte em Goiânia.

Fonte: http://www.lideranca.org/cgi-bin/index.cgi?action=viewnews&id=175

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