Vivemos uma
situação preocupante na Igreja Cristã atual. Segundo uma matéria da influente
revista norte-americana Christianity Today, na sua edição de setembro de 2013,
que traz um estudo feito por Kate Bowler, professora da Duke Divinity School,
Universidade fundada pela Igreja Metodista, em sua tese de doutorado que virou
livro com o título de “Blessed: A History of the American Prosperity Gospel”
(em português: Abençoado: uma História do Evangelho da Prosperidade), diz que a Teologia da Prosperidade está presente em
dois terços das igrejas. Segundo o estudo, esta teologia domina os
púlpitos. Mas não só nos EUA, mas em diversos países, desde o Brasil até
Cingapura, passando pela Nigéria. Embora
em alguns lugares seja apresentado como “pregação de saúde e riqueza”,
“confissão positiva” ou “teologia da dominação”, o foco é o mesmo: riqueza e
vida boa aqui e agora. A grande maioria dos pregadores tem seus próprios
programas de TV, escrevem livros sobre o assunto e atraem multidões para suas
megaigrejas. E as pessoas parecem gostar cada vez mais.
Segundo
Bowler, embora repudiado pelos teólogos, o movimento que oferece a prosperidade
a todos os que tiverem fé, superou a
velha pregação baseada no arrependimento e na mudança de vida.
Agora, por que este movimento, que oferece tantos
benefícios àqueles que a aderem, parece ser prejudicial à saúde espiritual
cristã? Porque nada do que é prometido nos púlpitos das igrejas que
professam este teologia é de graça. São campanhas e mais campanhas financeiras.
E tudo isso como que num processo de troca com Deus. Afirmam que quem dá
receberá de volta em até cem vezes mais, pois, como dizem, Deus não fica
devendo nada a ninguém! É como se Deus só olhasse para aqueles que desembolsam
seu suado dinheiro para ofertar nas campanhas de fé das “denominações da
prosperidade”. Tais denominações não ensinam aos seus adeptos o que diz a
musica “Eles precisam saber”, da Banda Resgate, que “aquilo que Deus faz,
aquilo que Deus tem não se pode comprar e que Deus pode se mover por aquilo que
são, por compaixão e não pelo o que podem dar.
Jesus presenciou um comércio assim no Grande Templo de
Jerusalém:
Quando já estava
chegando a Páscoa judaica, Jesus subiu a Jerusalém. No pátio do templo viu
alguns vendendo bois, ovelhas e pombas, e outros assentados diante de mesas,
trocando dinheiro. Então ele fez um chicote de cordas e expulsou todos do
templo, bem como as ovelhas e os bois; espalhou as moedas dos cambistas e virou
as suas mesas. Aos que vendiam pombas disse: “Tirem estas coisas daqui! Parem
de fazer da casa de meu Pai um mercado!” Seus discípulos lembraram-se que está
escrito: “O zelo pela tua casa me consumirá”.
(João 2.13-17 - NVI)
Creio que se hoje Jesus fosse a alguns templos cristãos pelo
Brasil e algumas partes do mundo, não seria diferente a atitude que tomaria. No texto acima Jesus chegou no Templo de Jerusalém e viu o
comércio que se instalara no pátio do Grande Templo, com pessoas fazendo negócios
de animais e moedas estrangeiras. Estes animais eram vendidos a pessoas que
vinham ao templo no intuito de sacrificar e os vendilhões elevavam e muito o
preço, se tornando em grande fonte de lucro a estes comerciantes que se
aproveitavam das necessidades momentâneas do povo. Também faziam trocas de
moedas estrangeiras por moedas aceitáveis no Templo, pois muitos daqueles que
vinham de longe para cultuar no recinto sagrado traziam moedas de seus países
de origem que eram cunhadas com imagens de várias divindades ou de seus imperadores,
os quais muitas vezes eram tidos como deuses, sendo, portanto, inaceitáveis nas
urnas de ofertas do Templo. Isto fazia com que o câmbio destas moedas
estrangeiras pelas que eram aceitáveis nas ofertas ser uma transação financeira
também bastante elevada e lucrativa para os cambistas.
Diante deste quadro, Jesus fez um chicote de cordas e
expulsou estes comerciantes fraudulentos da Casa de Deus dizendo: “Tirem estas
coisas daqui! Parem de fazer da casa de meu Pai um mercado!” ((João 2.16).
Esta atitude de Cristo fez os discípulos se lembrarem de uma passagem da Torá
(Antigo Testamento, para nós) que afirma: “O
zelo pela tua casa me consumirá” (Salmo 69.9).
O comércio da fé foi também predito pelo apóstolo Pedro. Em sua Segunda Carta, ele diz:
No passado surgiram
falsos profetas no meio do povo, como também surgirão entre vocês falsos
mestres. Estes introduzirão secretamente heresias destruidoras, chegando a
negar o Soberano que os resgatou, trazendo sobre si mesmos repentina
destruição. Muitos seguirão os caminhos vergonhosos desses homens e, por causa
deles, será difamado o caminho da verdade. Em
sua cobiça, tais mestres os explorarão com histórias que inventaram [também,
movidos por avareza, farão comércio de vós, com palavras fictícias (RA)].
Há muito tempo a sua condenação paira sobre eles, e a sua destruição não tarda. (2 Pedro 2.1-3 - NVI)
Por que o comércio da fé acontece? Por que encontrou terreno
fértil no meio cristão? Creio que devido aos
anseios do ser humano que deseja uma resposta rápida frente as suas
necessidades. A humanidade tem se
encontrado cada vez mais materialista e consumista. Há uma busca cada vez maior
pela satisfação da alma, e isso é explorado por certas instituições religiosas
que, ao invés de falar de Cristo que supre as necessidades não só da alma, mas
do corpo e do espírito, através de Sua Palavra, trazem em suas pregações
palavras antropocêntricas, tirando Jesus do foco e colocando o homem. Não
são mais palavras voltadas para a Salvação ou por uma verdadeira conversão, mas
sim para uma mudança de vida material aqui na Terra.
Qual a nossa responsabilidade como cristãos e pregadores da
palavra? Creio que a resposta o apóstolo Paulo
já deu:
Porque nós não estamos,
como tantos outros, mercadejando a palavra de Deus; antes, em Cristo é que
falamos na presença de Deus, com sinceridade e da parte do próprio Deus. (2 Coríntios 2.17)
Deus nos chamou para servos Sal e Luz (Mateus
5.13-16) e com isso fazermos a diferença nos conservarmos livres de todos os
males que o mundo traz, dando sabor de alegria, paz e perseverança à nossa vida
e na de todos os que nos rodeiam, mostrando ao mundo nossas convicções,
posições e valores e, assim, brilhar em um mundo obscurecido pelo pecado.
Pr. Enádio Ferreira