***Por Gutierres Siqueira
Um pastor piauiense prega de terno e gravata, em um calor nada menos do que de quarenta graus. Um culto com crianças cujo dirigente é um velho diácono da igreja, em lugar da jovem responsável pelo departamento infantil. Vários homens sentados na plataforma do templo, enquanto alguns visitantes estão procurando lugares para se acomodarem. Um culto de casamento onde o grupo musical canta religiosamente três hinos do hinário oficial. Ofertas que são tiradas até em cultos exclusivamente evangelísticos. Uma congregação que se recusa a fazer a Escola Dominical no colégio vizinho da igreja, pois não podem sair do templo! Eis alguns exemplos corriqueiros em igrejas tradicionalistas do sufocante formalismo.Formalismo pode ser definido como a valorização excessiva de forma em detrimento da essência. As cerimônias, liturgias e formas de culto destacam valores para a vida, mas o formalista não enxerga os valores e sim as formas. No ambiente formalista, os preceitos são mais valorizados do que os princípios, as leis mais aclamadas do que o espírito da lei, o culto mais apreciado do que a razão do culto. Formalismo é o legalismo litúrgico, é o legalismo institucionalizado!
Pentecostais de fervor mecânico!
As igrejas pentecostais exaltam o seu lado espontâneo, mas muitas vezes até a sua “espontaneidade” é corriqueira e repetida, ou seja, muito pentecostais vivem no paradoxo da “espontaneidade mecanizada”. Igrejas cujo “poder” sempre cai em determinado momento do culto e onde “manifestações” espirituais estão atreladas a visitas de pregadores “avivalistas”. Igrejas cujos cultos “dirigidos pelo Espírito Santo” são tão previsíveis como uma bula litúrgica. Há até aquelas igrejas que marcam o dia da “cura divina”, pois em suas placas estão inseridos dizeres como “sexta-feira da libertação”, “quinta-feira da vitória”, ou ainda, “sábado da cura”!Por mais contraditório que seja, o reteté é uma espécie de formalismo! Sim, formalismo puro! Os cultos do reteté são tão previsíveis, que você verá as mesmas manifestações bizarras em Manaus ou Porto Alegre. Nesses “cultos” você ouvirá os mesmo clichês, as mesmas formas de pregação, os mesmos temas e até a mesma indumentária dos pregadores. É um imitando o outro, pessoas que negam sua personalidade.É comum na literatura pentecostal apostilas e livros com o título "Como receber o Batismo no Espírito Santo". Ora, como ousam usar uma linguagem totalmente de tecnólogos (como fazer) para uma atividade do Espírito. É certo que nas Escrituras se encontraram princípios para uma vida plena no Espírito, mas não em processos semelhantes a montar uma geladeira. Você não encontrará dicas do que fazer ou deixar de fazer!
“Aqui você não prega SEM gravata. Aqui você não prega COM gravata”
Não é que a comunidade cristã deve ser um lugar sem ordem, sem liturgias, sem planejamento; longe disso, a igreja necessita de uma ordem bem estabelecida. O que nunca deve acontecer é que regras de ordem para culto tornem-se absolutas, intransponíveis e sacralizadas. É preciso lembrar que muitas igrejas que primam por uma liberdade são também formalistas. Há casos de igrejas onde é proibido pregar sem gravata, assim também como igrejas onde é proibido pregar com gravata. Uma diz que é questão de costumes denominacional, a outra insiste em dizer que tem liberdade no Espírito, mas ambas são formalistas.
Conclusão
Formalismo é sufocante e desnecessário. Cria problemas em lugar de soluções. Fere as Sagradas Escrituras quando pensa que a honra. Massacra o humano em lugar de construir a Eclésia. Combater o formalismo não deve ser lugar para anarquias espiritualizadas, mas sim jogar fora um legalismo enrustido.
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